Um estudo liderado pela Prof. Doutora Célia Artur, da Universidade Eduardo Mondlane, com financiamento do Fundo Nacional de Investigação (FNI), propõe uma solução inovadora para os desafios do aquecimento de água em lares urbanos: a adopção de sistemas solares térmicos.
O projecto, realizado entre 2017 e 2018, analisou 700 lares em 28 bairros da capital, abrangendo áreas urbanas centrais, semi-urbanas e periféricas. Actualmente, cerca de 46% dos lares utilizam electricidade para o aquecimento de água, enquanto 41% recorrem à biomassa. Estes métodos, embora comuns, apresentam graves ineficiências: a biomassa, por exemplo, tem o maior consumo energético entre todas as tecnologias analisadas, demandando 2.920 kWh por ano por lar, enquanto os aquecedores eléctricos consomem, em média, 1.797 kWh por ano.
Com a transição para sistemas solares térmicos, o consumo de electricidade associado ao aquecimento de água pode ser reduzido em 65,7%, enquanto as emissões de dióxido de carbono podem cair até 78,7%. Além disso, as famílias que optarem pela tecnologia poderão economizar cerca de 244 USD por ano, representando um alívio significativo nos custos domésticos. Os sistemas solares podem suprir até 99% da energia necessária para o aquecimento de água, dependendo do modelo e da capacidade instalada.
Aproveitamento da biomassa como fonte de energia renovável
A investigação liderada pela Prof. Célia Artur também integra uma iniciativa regional que explora o uso de biomassa invasora como fonte de energia sustentável. Em colaboração com a Botswana International University of Science and Technology, a equipa está a desenvolver um sistema de torrefacção intensificada que converte biomassa invasora em biocombustíveis sólidos limpos e acessíveis.
Estima-se que 120 milhões de hectares de biomassa invasora estejam disponíveis na África Austral, com o potencial de produzir 359,7 mil milhões de toneladas de combustível sólido, suficiente para apoiar iniciativas industriais e domésticas de energia limpa. Este projecto, em implementação entre 2023 e 2025, inclui a construção de geradores solares parabólicos de vapor superaquecido em Moçambique, bem como o design e a optimização de sistemas de torrefacção no Botsuana.
Energia solar térmica pode transformar consumo doméstico em Maputo
Além de oferecer uma alternativa energética eficiente, a iniciativa contribui para a mitigação de alterações climáticas e a restauração de ecossistemas. O uso da biomassa invasora reduz a pressão sobre recursos florestais e melhora a gestão dos recursos hídricos, ao mesmo tempo que promove o desenvolvimento de soluções locais acessíveis. A tecnologia também prevê impactos sociais significativos, incluindo oportunidades de emprego em comunidades locais, capacitação em energias renováveis e fortalecimento das cadeias produtivas.
Desafios e políticas necessárias
Apesar dos benefícios identificados, o estudo alerta para a necessidade de estratégias de implementação que garantam a adopção eficiente e inclusiva dessas tecnologias. Em dias nublados, o uso de backups eléctricos pode aumentar os picos de consumo, e barreiras financeiras podem limitar o acesso às soluções propostas. Políticas públicas que incentivem a produção local de equipamentos e a sensibilização para o consumo eficiente são cruciais para superar essas limitações.
Energia solar térmica pode transformar consumo doméstico em Maputo
O financiamento do FNI reflete o compromisso do Governo em alavancar a ciência e a inovação para enfrentar os desafios energéticos do país. A adopção de tecnologias como sistemas solares térmicos e torrefacção de biomassa demonstra que é possível alinhar progresso económico com sustentabilidade ambiental, pavimentando o caminho para um futuro energético mais limpo e inclusivo em Moçambique.